PARTILHA/COLABORAÇÃO

Nishant Redkar engenheiro de software registou o seguinte no seu blogue: "Um homem sábio disse uma vez: [A privacidade é a condição de ficar sozinho, fora da vista do público e no controlo das informações que as outras pessoas têm sobre si]".


"Está a emergir na nossa vida uma nova civilização e por toda a parte há cegos que tentam suprimi-la.
(...) Outros, aterrorizados com o futuro, entregam-se a uma desesperada e inútil fuga para o passado e
tentam restaurar o mundo moribundo que lhes deu vida." (in "A Terceira Vaga", Alvin Toffler, p.13).

23/04/2010

MOTIVAÇÃO


A motivação é a mais importante de todas as variáveis do processo educativo, mas a mais difícil de controlar. Ela pode assumir várias formas, divididas em dois grandes subconjuntos: Expectativas e Necessidades (Gagné 1987 e Maslow, 1950), os quais derivam do conceito de homeostasia e da noção de (des) equilíbrio tendentes a gerarem uma força para um objectivo: a satisfação.
Mas as causas que estão na origem da ausência de insatisfação, não são as mesmas que estão na base da ausência de satisfação (Herzeberg, 1979), às primeiras este autor chamou-lhes Factores Higiénicos e às segundas Factores Motivacionais.


Imagem do cérebro, com o hipotálamo, o tálamo, o lóbulo frontal, a hipófise (também denominada como glândula pituitária) o tronco cerebral e o cerebelo.

Em “O Cérebro Total”, Ned Herman (1982) fala-nos do efeito de filtro provocado pelo Cérebro Límbico, que é o mesmo que dizer, pelas emoções. Estas actuam na filtragem, quiçá, inibição ou bloqueio da informação que é canalizada para o Cérebro Cortical. Este autor vai buscar a antiga designação do Sistema Límbico, que compreende um conjunto de glândulas (Tálamo, Hipotálamo, Amígdala, etc.) e de neurotransmissores (hormonas) que interactuam em conjunto com o Córtex para gerarem as emoções.
Quando estamos numa sala de aula, numa conferência, num workshop ou frente a um computador a estudar num programa de EAC ou interagindo num curso de e-Learning, a atenção que damos ao emissor e o grau de concentração que temos para a recepção da mensagem vai caracterizar todo o processo de aprendizagem, quer quanto à quantidade e qualidade de informação transformada em conhecimento quer, ainda, no papel decisivo que a mesma irá desempenhar na recuperação dos conteúdos armazenados no cérebro.



A atenção que se presta aos diferentes estímulos está na razão directa da qualidade dos mesmos ou da importância imediata ou futura que o receptor atribui a essa informação. É evidente que nada disto é tão linear. Por maior que seja o desejo de aprender uma dada matéria, vital para alcançar um importante objectivo, se a pessoa estiver fatigada, com sono ou doente os seus limiares de atenção vão, com certeza, prejudicar essa aprendizagem. Paralelamente, se alguém tiver uma enorme admiração por um orador, mas se na sala estiverem 40 graus ou o sistema de som for deficiente, a pessoa irá captar muito pouco da mensagem que esse emissor queria transmitir à assistência.

Do que foi dito é, então, possível inferir que a Atenção Selectiva aumenta ou diminui em função de múltiplos factores internos ou externos ao sujeito da acção, havendo diferentes mediadores meramente físicos ou mecânicos e outros psicológicos। Quando um estímulo chega a um receptor sensorial (olhos ou ouvidos, por exemplo), para que essa mensagem seja trabalhada no cérebro, sofre múltiplas transformações físicas, químicas e eléctricas antes de ser indexada para ser armazenada na memória a longo prazo.

Por exemplo, o sinal sonoro ou luminoso que sai do emissor (professor, computador, etc.) tem de ter boa qualidade física para vencer muitas barreiras: ruído na sala, iluminação em excesso, etc., e ser captado pelo órgão sensorial específico (cones, bastonetes, tímpanos, etc.). Depois há uma selecção prévia (física) realizada pelas memórias sensoriais (memória icónica, memória ecóica, memória táctil, etc., Neisser, 1967) antes da informação seguir pelas vias próprias (feixes de neurónios – nervos), as quais possuem um efeito de filtro, por onde só passam dados com “boa” qualidade (qualidade física, obviamente), a não ser que o sujeito da acção (voluntária ou involuntariamente) tenha dado uma “ordem” ao seu cérebro em contrário. Neste caso, o filtro adquire a predisposição para deixar passar dados não adequados (baixa o limiar de excitabilidade).

Depois de vencer essa “segunda” barreira que é a memória sensorial ou imediata, há um longo trajecto a percorrer a que Broadbent e outros autores chamaram: Canal de Capacidade Limitada. Este “funil” só canaliza informação para o codificador (MCP – Memória a Curto Prazo, Miller 1956) se a qualidade do estímulo já foi verificada no filtro anterior (memória sensorial). A sua missão é, agora, a de sistematizar os fluxos de informação ao longo do canal, retardando a chegada dos dados à MCP para que esta memória tenha tempo de indexar o conhecimento a armazenar. Quando chega à “estação de tratamento” MCP, onde irá permanecer o tempo necessário à codificação, sofre um novo período de espera que advém da quantidade de informação que está a ser processada e/ou da dimensão que a referida memória (MCP) suporta. Como se recordam, o conceito de memória a curto prazo já foi estudado na Psicologia da Aprendizagem, a partir dos trabalhos de George Miller e do seu número mágico 7 (mais ou menos 2), bem como dos chunks de informação.


Por exemplo, se um professor fala muito baixo, sem vivacidade e com lentidão (monocórdico) ou, noutra acepção, se o ecrã de um computador apresenta dados confusos e pouco apelativos, nem um nem o outro, conseguem vencer as barreiras e os filtros, a não ser que o receptor esteja rendido aos “encantos” da mensagem ou do emissor. Neste caso, os filtros estão “desligados” (atenção selectiva total).

Outra situação similar acontece quando alguém está numa festa a prestar atenção a um pequeno grupo e, longe dali, outro grupo conversa animadamente. De repente, alguém desse grupo diz o nome de uma das pessoas do primeiro e, automaticamente, essa pessoa embora distante, passa a prestar atenção a essa conversa. Existiu uma redução do limiar de excitabilidade das células, razão pela qual, embora o sinal sonoro seja mais fraco, foi captado ( the cocktail party problem).

Quando o professor fala muito depressa (embora com boa dicção e tonalidade) ou o ecrã apresenta grandes blocos de texto, vídeos, textos temporizados e imagens, todos com sequências muito rápidas, a informação, mesmo que consiga vencer os filtros, perde-se na fase de espera para codificação na entrada da MCP. É um problema similar ao que ocorre na hidráulica. Se saírem de uma torneira 40 litros de água por minuto para dentro de um tanque e se este possuir outra torneira por onde saem 20 litros em cada minuto, algum tempo depois este reservatório transborda e a água perde-se. É o que acontece com os dados que estão na sala de espera da MCP (tanque da metáfora). Quando chega muita informação à MCP, há uma parte que esta não consegue tratar. Essa informação perde-se irremediavelmente.
Os processos de imitação e de comparação com modelos e esquemas, possíveis em matérias muito simples mas também nas complexas, ajudam a criar algoritmos mentais próprios, a partir do momento em que a informação ganhe sentido para o estudante e o treino seja capaz de gerar os automatismos da nova estrutura mental (semelhante a um programa de computador, mas no nosso cérebro).

A tentativa e erro ajudará, com os cuidados necessários para não desmotivar o estudante, a estrutura a sedimentar-se e a optimizar-se. Portanto, no e-Learning e afins, as simulações e os questionários de resposta automática, que podem ser repetidos “n” vezes, são estratégias a adoptar sempre. A atenção selectiva e o desempenho melhorarão quando a imitação e a tentativa e erro estiverem “encaixadas” nos jogos pedagógicos, uma vez que o lúdico, bem como algo que é inerente à espécie humana, ou seja, gostar de vencer nem que seja a própria máquina, funcionarão como facilitadores do acto de aprender.


Os diferentes programas didácticos por computador, mesmo em utilizações simples na sala de aula, devem ter por base, uma forte preocupação com a pedagogia e com a forma. Aconselha-se para o e-Learning/b-Learning, EAC e afins, que sejam escolhidas equipas multidisciplinares, com pedagogos a estudarem o processo de aprendizagem e designers a forma. A atenção selectiva que o aluno/formado irá desenvolver, dependerá da organização e da tipologia dos conteúdos: casos, metáforas, alegorias, simulações, imagens, sons, oficinas de trabalho, trabalho em equipa, em suma, uma vasta panóplia de recursos que recorrem a técnicas estudadas pelos teóricos da percepção e da atenção, que levem o estudante a motivar-se, a gostar de estar “ali” a estudar, quiçá, a “viciar-se” nesta manipulação de dados, em plena comunhão com os objectivos e os fins do curso.

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